Cerveja também é álcool.

 

Pesquisas sérias demonstram que as bebidas mais consumidas pelos adolescentes são justamente aquelas que foram poupadas pela lei   Só o lobby dos fabricantes, agências de publicidade e veículos de comunicação, os rios de dinheiro arrecadados em impostos e a cara de pau de integrantes do governo e do Congresso, que se recusam a enxergar que o álcool da cerveja não é menos prejudicial para a saúde pública do que o álcool da cachaça ou da vodca, explicam o porquê de a legislação brasileira ter poupado as bebidas com até 13 graus Gay Lussac (GL) de restrições à publicidade no rádio e na televisão.


A distinção entre bebidas "fortes" e "fracas", feita na lei nº 9.294/96, permitiu que a propaganda de cerveja -- bem como de vinhos e outras bebidas de menor graduação alcoólica -- escapasse às restrições relativas a horário de exibição. Evitou-se, dessa forma, causar incômodos à milionária indústria cervejeira nacional, patrocinadora de esportes populares e que recolheu, somente no ano passado, R$ 4,06 bilhões em impostos ao governo.


A concessão, porém, teve um preço elevado para a sociedade, uma vez que anulou a eficácia da lei, naquele que seria seu principal objetivo: evitar o estímulo ao consumo de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes, pela eliminação das propagandas no rádio e TV entre as 6h e as 21h. Embora todos saibam que cerveja é bebida alcoólica, os legisladores optaram, não sem uma dose de covardia e hipocrisia, por livrá-la das limitações que deveriam valer para todas as bebidas alcoólicas.

Beneficiadas por essa interpretação esdrúxula, convincentes campanhas publicitárias -- quase sempre, protagonizadas por jovens saudáveis e mulheres bonitas, envolvidos em situações divertidas -- continuaram a aparecer na TV aberta a qualquer horário (e também durante jogos de futebol), para incutir nas novas gerações conceitos e atitudes essenciais ao bom desempenho desse lucrativo mercado.

O resultado não poderia ser pior para a juventude, para a sociedade e para o País como um todo. Pesquisas sérias demonstram que as bebidas mais consumidas pelos adolescentes são justamente aquelas que foram poupadas pela lei. Os destilados, cujos comerciais são banidos da TV durante o dia, representam apenas 7% do consumo. A bebida mais consumida por adolescentes é a cerveja (52%), seguida do vinho (35%). De acordo com o 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), o uso regular de álcool tem crescido entre os adolescentes e, particularmente, entre as mulheres jovens.

Muitos brasileiros poderiam ser poupados dos problemas decorrentes do alcoolismo e os danos sociais devidos ao uso de bebidas alcoólicas poderiam ser bem menores se a propaganda de bebidas fosse submetida às mesmas restrições daquelas colocadas, em 2000, à propaganda de cigarro. Desde que os cigarros foram banidos da TV, revistas e outdoors, houve uma redução de 33% no consumo no Brasil, conforme levantamento da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).


Na verdade, a proibição da propaganda em determinados horários não é muito, em comparação com a vedação total imposta ao cigarro. Mas já seria uma vitória importante para a sociedade, no entendimento do Ministério Público de São Paulo, que lançou, na semana passada, a campanha Cerveja Também é Álcool, pela alteração da lei nº 9.294/96 para que as restrições à publicidade atinjam todas as bebidas com graduação superior a 0,5 grau GL.


O sucesso da iniciativa depende do apoio de cada cidadão, que pode colaborar colocando sua assinatura uma petição on-line, no endereço www.change.org/cervejatemalcool. Apoiada por entidades de peso como o Conselho Federal de Medicina, Sociedade Brasileira de Pediatria e Conselho Federal de Farmácia, a campanha é uma oportunidade de ouro para que o Brasil corrija um erro histórico, responsável por muitos dos problemas psicossociais, acidentes e doenças que afligem a população a partir de seus elos mais frágeis e que mais precisam de proteção: a criança e o adolescente.

Cruzeiro do Sul - Sorocaba/SP

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