Álcool seduz ainda na infância

Álcool seduz ainda na infância

Confira os resultados da pesquisa sobre o perfil do consumo de álcool entre jovens

Álcool seduz ainda na infância

1 / 1

Confira os resultados da pesquisa sobre o perfil do consumo de álcool entre jovens

A relação de jovens com o álcool é cada vez mais precoce e intensa. Estudo do Ibope, realizado em maio e junho, mostra que o consumo de bebidas alcoólicas é um hábito entre menores de idade: 45% dos adolescentes de 12 a 17 anos já experimentaram e 39% compraram o produto em algum estabelecimento comercial. O levantamento foi feito em São Paulo, mas especialistas consultados pela Gazeta do Povo revelam que o cenário se repete em igual medida em várias partes do Brasil, inclusive no Paraná.

Dentre as pessoas que provaram álcool, o porcentual de adolescentes que confessaram ter bebido nos últimos 12 meses é maior do que o número de adultos, 71% e 64%, respectivamente. Enquanto a maioria dos jovens de 16 e 17 anos bebe geralmente na companhia de amigos, é com a família que 44% dos adolescentes de 12 e 13 anos costumam ingerir as bebidas alcoólicas. A pesquisa mostra que a idade do primeiro gole é cada vez mais cedo. Os adultos confessam que começaram a beber com 15 anos, os adolescentes reconheceram que, na média, iniciaram com quase 14 anos. Mas admitem que deveriam co­­meçar a beber só depois da maioridade.

Não são raros os casos em que é algum familiar que oferece o primeiro copo. Um em cada cinco adolescentes foi incentivado por um parente. Mas a principal influência ainda vem dos amigos. Em metade dos casos, são eles que estimulam o gole inicial. O estudo mostra que o consumo muitas vezes ocorre em casa e quanto maior a renda familiar, maior é o consumo. A falta de limites na educação, a facilidade de acesso à bebida e a permissividade da família – que não vê o consumo de álcool como atitude grave – são apontados como os principais fatores responsáveis por aproximar os jovens da bebida.

Em 43 anos de experiência, Amauri*, um dos membros fundadores dos Alcoólicos Anônimos em Curitiba, acompanhou a diminuição gradativa da idade das pessoas que buscam ajuda. Quando entrou no AA, aos 31 anos, ele era um dos mais jovens integrantes do Brasil. “Hoje, mesmo que a pessoa não procure ajuda ainda na adolescência, ela reconhece que começou a beber muito jovem”, diz.

A reportagem esteve em uma reunião do AA e das 11 pessoas presentes, nove tomaram o primeiro gole quando ainda eram menores de idade. Na média, aos 13 anos, mas alguns relataram ter bebido aos 8, 9, 10 anos. Pesquisa do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas indica que 40% dos adolescentes e 16% dos adultos que procuram tratamento para se livrar do vício experimentaram bebida alcoólica antes dos 11 anos.

“O adolescente quer ser adulto, e o consumo de álcool está ligado à representação de que ele já pode fazer escolhas para a sua vida. Funciona como um batismo do mundo adulto”, avalia a pesquisadora Araci Asinelli Luz, especialista em educação preventiva. Para ela, a permissividade dos pais com o álcool também está ligada ao fato de que, como eles próprios bebem, perdem a autoridade para dizer para não fazer o mesmo. “A maioria das famílias tem barzinho em casa, mas não tem biblioteca”, lamenta. Araci diz acreditar que ne­­nhuma metodologia para segurar o consumo de bebidas alcoólicas vai funcionar se os pais não derem o exemplo.

Com base na diminuição gradativa do uso do cigarro – a partir do desenvolvimento de políticas públicas, de restrições de venda e publicidade e da busca por tirar o glamour do consumo –, a pesquisadora defende que é possível reduzir, aos poucos, o acesso ao álcool pelos adolescentes. Contudo, hoje, tanto nos meios de comunicação como nas rodas de amigos, a ingestão de bebidas ainda aparece como a representação de sucesso.

http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/alcool-seduz-ainda-na-infancia-as7cihmwsebgy4z1d9w3ptkr2

Coordenadoria Municipal de Prevenção às Drogas
Rua 16, n. 101 Vila Santa Cecilia - CEP. 27260-110
Tel. (24) 33399121